terça-feira, 15 de março de 2011

PUBLICAÇÃO DE CARLOS FONSECA

Talidomida: crime horrendo e impune

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Desde há 25 anos, que se realiza em Badajoz o VIDEOMED, festival bienal de filmes médicos e fórum de telemedicina. Participam médicos, profissionais de saúde pública e de cinema médico ibéricos e de diversos países latino-americanos e africanos (Angola e Senegal estiveram presentes, este ano).
Pela terceira vez, desde 2006, fui membro do júri de películas médicas, na edição realizada entre 8 e 13 do mês em curso. Como sempre, tive a oportunidade de ver filmes com diferentes abordagens; umas mais estreitamente ligadas ao exercício da medicina, outras focadas em problemas médico-humanitários.
De tudo a que assisti e avaliei, os filmes que mais feriram a minha sensibilidade foram aqueles (3) que, 50 anos depois, relembraram os resultados do criminoso fármaco da alemã Grünenthal, a tristemente célebre Talidomida.
As imagens acima publicadas, retiradas do site www.avite.org, dão, apenas,  pálida ideia de inúmeras vidas sofridas, durante meio-século. Contam-se aos milhares as vítimas em Espanha e no Reino Unido, em especial. No filme de autoria da ‘Avite, Associación de Victimas de La Talidomida en España’ – www.avite.org/corto.htm – alguns atores espanhóis recrearam pedaços da vida dolorosa, desde o parto, de José Riquelme, uma da vítimas da Talidomida. Quando nasceu, e por força da inesperada malformação com que veio ao mundo, só foi mostrado à sua mãe três dias após o parto.
O filme é, de facto, elucidativo do bárbaro crime cometido sobre José Riquelme e muitos mais. Em Espanha, ao contrário do Reino Unido,  os sucessivos Governos em 50 anos, a Grünenthal, as entidades responsáveis pela “política do medicamento” ou médicos prescritores ficaram isentos de responsabilidade e  de condenação para compensar as vítimas do pouco que é compensável; vítimas submetidas, portanto, a condições  de vida penosa e  de dependência de familiares e amigos.
José e os companheiros de infortúnio continuam a lutar. Não deixam de acreditar que, pelo menos materialmente, um dia serão indemnizados. Serão? O futuro o dirá. O que o presente garante, com inteira clareza, é que a Grünenthal e as multinacionais farmacêuticas continuarão a arrecadar fortunas em lucros. Como, por exemplo, a Roche, de que é acionista o famoso guerreiro do Iraque, Rumsfeld. Como me dizia um médico brasileiro: “Com tanta gente, no Mundo, carenciada de cuidados médicos e de fármacos eficazes para patologias graves, as farmacêuticas entretêm-se a ganhar muito dinheiro com a disfunção sexual”.
Quem viu O Fiel Jardineiro, do brasileiro Fernando Meirelles, saberá  qual o tipo de empresas e negócios que está em causa. Todavia, acrescento: depois de todos estes exemplos, é-me  impossível digerir a tese de que as teorias de mercado e do sector privado têm um papel crucial na ‘ defesa e promoção da saúde humana’. Uma ova, digo eu!

Sobre Carlos Fonseca

Economista, licenciado pelo ISCTE. Mestre em Engenharia da Saúde pela UCP. Ex-Director de empresas do grupo QUIMIGAL (ex-CUF), Sociedade Nacional de Sabões; ex-Gestor Hospitalar (Sector Privado); Docente de cursos de pós-graduação da UCP.

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